Friday, July 07, 2006

"atordoado por verificar quao pouco a esquecera e ela a ele, afastou-se compreendendo, como nunca antes tivera necessidade de compreender que fora do estudo do drama classico grego, a facilidade com que a vida pode ser uma coisa em vez de outra e em que medida um destino pode ser acidental...e como, por outro lado, um destino pode parecer acidental quando é impossivel as coisas serem, jamais, diferentes do que sao. isto é, afastou-se sem compreender nada, sabendo que nao podia compreender nada, mas com a ilusao de que poderia ter compreendido metafisicamente alguma coisa de enorme importancia acerca da sua obstinada determinaçao de se tornar senhor de si mesmo se... se ao menos tais coisas fossem compreensiveis".
"como um destino pode ser acidental... ou como tudo pode parecer que é acidental quando é inescapàvel"
"como se fosse possivel renunciar, fosse como fosse, ao combate que é o combate singular de cada pessoa, como se alguem pudesse, por opçao e voluntariamente, deixar de ser a pessoa que é, o ser caracteristico e imutavel em cujo nome o combate é, afinal, travado."
"as coisas sao como sao - à sua maneira seca e concisa, era so isso que ela estava a dizer à rapariga que dava de comer a serpente: nòs deixamos uma mancha, deixamos um rasto, deixamos a nossa marca. impureza, crueldade, mau trato, erro, excremento, sémen. nao ha outra maneira de estar aqui. nao tem nada a ver com desobediencia. nem com graça, nem com salvaçao, ou redençao. està em todos. sopro interior. inerente. determinante. a mancha que existe antes da sua marca. sem o sinal de que està là. a mancha que é tao instrinseca que nao precisa de uma marca. a mancha que precede a desobediencia, que engloba a desobediencia e confunde toda e qualquer explicaçao e compreensao. é por isso que toda a purificaçao é uma anedota. e uma anedota barbara, ainda por cima. a fantasia da pureza é aterradora. è demencial. o que é a ansia de purificar senao impureza? tudo quanto estava a dizer acerca da mancha era que ela é inelutàvel."
"resginada com a horrivel imperfeiçao elementar"
"como era estranho pensar que tivessem cedido com tanta facilidade ao ancestral sonho humano de uma situaçao em que um homem pode personificar o mal. mas a verdade é que, alem de existir, essa necessidade é imperecivel e profunda".
"a verdade a nossa respeito é infinita. assim como as mentiras"

Philip Roth - a mancha humana

2 Comments:

Blogger Virgin Mary said...

:)

8:01 PM  
Anonymous Anonymous said...

Esse teu Philip Roth é bom demais. Mas é muito hemisfério norte!... :)
Ora escuta este:

Poema

A poesia está guardada nas palavras - é tudo que
eu sei.
Meu fado é o de não entender quase tudo.
Prepondero a sandeu.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não cultivo conexões com o real.
Para mim, poderoso não é aquele que descobre ouro,
Poderoso para mim é aquele que descobre as insignificâncias:
(do mundo e nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei muito emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.

Manoel de Barros

4:19 PM  

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